Aprendemos o que é ser nômade no colégio, aquele que muda frequentemente de lugar, sem residência fixa.
Não passava pela minha cabeça, enquanto estudava direito, mudar de país.
Foi coragem e vontade de viver uma nova experiência que me fez pegar o avião e desistir dos meus planos para começar uma aventura.
Entendo o sentimento de pessoas que deixam o norte do Brasil e mudam para outro lugar no sul, com diversas finalidades: ajudar a família, arrumar um emprego, não importa, tem planos e sonhos. E muitos brasileiros também vem para o exterior tentar o mesmo.
Sempre o terreno do vizinho parece melhor mas muitas vezes, esses sonhos não fazem parte da dura realidade que é morar num lugar onde não se sabe as regras, a língua e a cultura. O choque cultural ocorre e vem a impressão de termos tomado a decisão errada de mudar de país.
Essa desilusão cria o sentimento de patriotismo acirrado. Muitos unem-se a outros brasileiros na mesma situação, evitam o contato com a língua estrangeira, por medo de sentir-se idiotas ou serem feitos de idiotas. A partir daí, anula-se qualquer vontade de trocar experiências culturais com outros povos. Está criado um pequeno Brasil, dentro de um país estrangeiro, cheio de regras de sobrevivência, onde o que está mais tempo que você e arrumou um emprego melhor, sabe mais e comanda.
O sofrimento é evidente pois fica claro se a pessoa não sabe conviver com as diferenças, vai estar num lugar onde não tem o mínimo interesse e passa então a pensar: "Quando eu juntar um dinheiro, comprar um terreninho, eu volto para o Brasil. É claro que com toda essa recessão em UK, esses sonhos estão quase impossíveis, pois foi o tempo que 1 libra valia 5 reais.
A maioria dos brasileiros tem o sonho de voltar, eu digo, a maioria, pois quando o cidadão já passou pelo sentimento de desilusão, aprendeu a conviver com as diferenças e gostou, passou a aceitar que aquele país que escolheu tem suas vantagens e o sonho da volta passa a fazer parte de um passado.
Registro aqui minha experiência: Foi minha gravidez que me tirou da desilusão. Antes, eu ainda sonhava em voltar com meu marido para o Brasil. Eu era nômade, mudei diversas vezes de cidade e país, no entanto, aprendi, através da minha filha, que ser nômade era fugir de mim mesmo, dos meus medos que sempre ficavam em algum lugar, pois eu não queria parar.
Indo para outro país, escondia de mim mesmo, minhas fraquezas. Quando retornava ao Brasil, tudo parecia tão igual.
Ser forte, muitas vezes é ficar e enfrentar o desconhecido. Eu aprendi a aceitar que a melhor coisa, como minha mãe sempre diz, é o equilibrio, a rotina, as pequenas coisas que nos fazem felizes, como um simples sorriso da minha filha e um bom dia do meu marido quando ele sai para trabalhar. O resto construímos com o tempo.
Não deixo de ser aventureira e não acho que envelheci com o tempo, só aprendi algo que demorou um tempo: estar constantemente feliz, mesmo que nas pequenas coisas.