Entrei no trem e fui para uma festa junina bem looooooooooooooooonge de onde moro. Com coragem, determinação de brasileira, queria muito conhecer onde estão meus compatriotas e comer bolo de milho.
Saindo da estação, tive a sensação que estava em alguma calçada do Brasil. E para minha surpresa, de cara, encontrei uma associação de brasileiros.
Lembrei-me do dia quando, pela primeira vez cheguei aqui, carregando uma mala pesada (cheia de sonhos) e já me perdi na numeração estranha que era par de um lado e impar de outro, tentando encontrar meu hostel. Ah.......se fosse na estação de Willesden Junction, já cairia direto nessa associação! Acertaram em cheio a localização!
Andando um pouco mais na rua principal dessa estação, deparei-me com um açougue, um botequinho e um restaurante brasileiro, tudo assim, pertinho um do outro. Por um minuto, fechei “um olho” e viajei para meu país. Deixei no entanto, o outro bem aberto, porque dizem que por ali é bom estar prestando bastante atenção. Não sei se muda muito se comparado com o Brasil. Dizem que tem a “Brasilwater”, apelido da estação “Bayswater”. Deveria existir a “Brazilian Junction Station”.
Sobre a festa junina, aproveitei pouquissimo, pois chegamos tarde e já era hora do bingo. Horário errado de chegar! O carrinho da minha filha ficou para fora do ginásio que estava lotado e o vento frio que não era para acontecer nessa época, pegou-nos de surpresa.
Na volta, andando pelas ruas, comecei a ouvir o sotaque que vem do nordeste, norte, sul, sudeste do Brasil e ali tudo misturado com uma população da Jamaica, naquele atmosfera meio maluca que é morar numa cidade tão cosmopolita.
Uma hora e meia para chegar em casa e apareceu o seguinte pensamento: moraria ou não numa área com muitos brasileiros?
Em Londres, moro afastada da maioria dos brasileiros, de forma que quando cruzo com mães brasileiras que moram por aqui ou quando ouço alguém falar portugês, fico muito feliz.
Amo estar com brasileiros, por sinal, amo meu país, apesar de todos os contrastes e problemas.
No entanto, gosto de onde moro, tenho tudo por perto, meu bairro é tranquilo, tem muitas opções de passeios. Também tem uma churrascaria brasileira. Sei que amizades com estrangeiros levam tempo para se formar e a intimidade criada nunca vai ser igual da que temos com nossa própria cultura.
A educação que pretendo dar para minha filha será com base na vivência que meu marido e eu tivemos, ou seja, de dois países diferentes, criados de forma completamente opostas e realidades super desiguais. Acredito que daí surgirá a riqueza educacional que minha filha experimentará.
Creio que por gostar de conhecer culturas diferentes, muito embora a adaptação seja por vezes tão difícil, isso já faz parte da minha personalidade. Essa integração levou ao meu amadurecimento emocional e por isso, acho importante permancer onde estou.
Passei a amar a Inglaterra, como meu lar, com todos os defeitinhos como a frieza britânica. Lógico, sinto saudades da minha terra, dos meus pais, irmãos, sobrinhos, amigos e família, mas acredito que já aprendi a lidar com a distância.
No meu armário sempre vai ter espaço para o chá inglês, o fubá e pão de queijo, pois nessa integração de comidas e gostos, trago mais para perto meu Brasil, brasileiro, minha terra amada!
E assim fico por aqui, com meu coração junto da comunidade enorme de brasileiros de Willesden Junction mas uma hora e meia afastada de todos.